A energia solar tem um novo amigo e é o mundo agrícola. É verdade, porque a queda dos preços da energia fotovoltaica reviveu o conceito agrovoltaico que foi cunhado pela primeira vez na década de 1980 na revista Solar Energy.
O artigo em questão, sobre a coexistência de energia solar e culturas agrícolas, foi o primeiro passo para os sistemas agrovoltaicos, também conhecidos como solares compartilhados. Em palavras simples, hoje é possível cultivar em locais onde existem painéis fotovoltaicos, ou instalar painéis onde já existem cultivos.
Agrovoltaico no Brasil
Essas ideias já estão instaladas no Brasil e é assim que o estado de Minas Gerais vem trabalhando nisso há alguns anos. A Empresa Mineira de Pesquisa Agropecuária (Epamig) está em fase de estudo, desenvolvimento e inovação da produção simultânea de alimentos e energia elétrica produzida pelo sol.
Para fazer isso, eles querem instalar e testar o monitoramento das colheitas sob painéis solares. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) também participam desse projeto.
Em especial, no Campo Experimental de Mocambinho, no norte mineiro, são cultivados melão, morango e alface, enquanto no Campo Experimental de Santa Rita, em Prudente de Morais, no centro de MG, trabalha-se o cultivo de pastagens para o gado.
Estes trabalhos experimentais tiveram início em agosto de 2023 e deverão durar cerca de dois anos e meio para ver os resultados da iniciativa. Em particular, as superfícies estendem-se por 300 a 400 metros quadrados para cada um dos quatro módulos.
Acima das lavouras, os painéis fotovoltaicos utilizados são monocristalinos e bifaciais em sistemas fixos e rastreadores. Ou seja, o primeiro tem orientação fixa em direção ao céu e o outro segue o curso do sol durante o dia.
O objetivo de tudo isso é comparar as taxas de produção vegetal e animal entre sistemas agrovoltaicos e cultivos tradicionais sem painéis solares, pois é a única forma de avaliar os resultados.
Ressalta-se que a agricultura e a energia solar são dois pilares econômicos do estado de Minas Gerais, portanto um projeto dessa magnitude aumentaria consideravelmente o valor do uso do solo, pois o terreno ou superfície se tornaria multiúso, obtendo mais benefício econômico por metro quadrado, num modelo de negócio revolucionário e inovador.
O investimento para toda essa iniciativa é de 10,5 milhões de reais, ou seja, US$ 2,1 milhões; e como dissemos, o processo levará dois anos e meio, onde se buscará uma integração entre as duas atividades.
Atividade agrícola e energia solar: juntas são mais fortes
A fase experimental de coexistência de ambas as atividades, energia solar e agricultura, faz um estudo comparativo entre três instalações agrovoltaicas. Com isso, pretendem estabelecer qual modelo é melhor, mais produtivo e eficiente em todos os sentidos.
É sabido que a tecnologia solar cresce rapidamente, ao mesmo tempo que reduz custos e aproxima este tipo de energia para as pessoas. Além disso, Minas Gerais é um dos estados que mais se desenvolve nesta indústria.
Os investigadores envolvidos sabem que o crescimento exponencial do sector fotovoltaico num estado fortemente agrícola justifica o desenvolvimento da coexistência de ambas atividades em conjunto, aproveitando a terra e proporcionando maiores e melhores rendimentos às pessoas, especialmente nas zonas rurais.
Além disso, outro potencial da iniciativa para as pessoas é que existem oportunidades de financiamento para pequenos agricultores que eventualmente queiram aventurar-se no mundo agrovoltaico.
É bom esclarecer que os sistemas agrovoltaicos podem ser instalados em duas configurações; um deles é com produção agrícola sob os painéis solares e outro com painéis verticais com cultivos no meio. Desta forma, as culturas podem receber sombra, proteção contra geladas ou calor extremo, reduzindo nesse sentido as taxas de evaporação das plantações.
Outros benefícios interessantes do desenvolvimento agrovoltaico são a redução da necessidade de irrigação, diminuição da erosão e melhor eficiência na geração de energia, pois as próprias culturas ajudam a resfriar os módulos fotovoltaicos.
Com os pés no chão, é bom enfrentar alguns desafios, como a adaptação conjunta destas tecnologias às condições agrícolas atuais e locais. É preciso ficar claro que tudo isso está em uma fase prematura e ainda faltam regulamentações, diretrizes e profissionais especializados na área.
Por outro lado, o Brasil tem potencial para aproveitar os seus solos e grande massa agrícola, promovendo a continuidade da transição para energias mais limpas, sem deixar de lado a produção agroalimentar, o que sem dúvida ajudaria a população, que possivelmente tem deficiências nas condições econômicas.
Nesse sentido, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil prepara caminhos para criar políticas de financiamento de pequenas centrais fotovoltaicas para pequenos produtores agrícolas.
Um contexto importante. O Brasil, apesar de ser uma potência agrícola mundial, apresenta números preocupantes de pobreza e insegurança alimentar. 11% dos agregados familiares, quase oito milhões de lares, encontram-se em condições de pobreza energética, valor que chega a 16% nas zonas rurais. Além disso, em 2022, quase 60 milhões de brasileiros, quase um quarto da população, tinham problemas de insegurança alimentar, sendo esta mais grave nas regiões norte e nordeste do país.
As avantagens da indústria agrovoltaica são:
- aproveita melhor a superfície e os territórios.
- oportunidade de melhora de condições econômicas para pessoal envolvido.
- novas vagas de trabalho
- beneficio mutuo para os cultivos e para o funcionamento dos paneis solares
- Acabar com insegurança energética e alimentar